Friday 16 May 2008

Eco Tour-André Sardet:A PRIMEIRA DIGRESSÃO COM PREOCUPAÇÕES ECOLÓGICAS]



Tudo começou há anos, quando André Sardet foi a casa do avô e o viu a separar o lixo: latas para um lado, jornais para o outro. Envergonhou-se e nada disse. Estava dado o "clique ambiental" na sua cabeça. "A partir daí, procurei saber mais sobre o assunto e comecei a ter preocupações".

No ano passado, e em plena época alta de concertos, o músico constatou que se "enchiam depósitos a cinco ou seis carros, os espectáculos eram promovidos com cartazes e, no final, o recinto estava cheio de garrafas". O útil juntou-se ao agradável e o interesse pelo ambiente foi posto em prática. Estava em curso o que viria a ser "um novo conceito".

No início deste ano, a digressão que André Sardet realizou por diversos auditórios foi justamente baptizada de Eco Tour. "Há 25 mil espectáculos por ano que movimentam 8,8 milhões de pessoas. A música tem um grande potencial de comunicação", assume. A partir daí, "cartazes só com papel reciclado, o plástico deixou de ser usado, todos os recintos foram obrigados a ter ecopontos, as pilhas foram proibidas, os carros alugados passaram a ser escolhidos em função do nível de emissão de CO2, o sistema de luzes foi reduzido e readaptado, de modo a gastar um terço da energia". Até os contratos passaram a ser assinados em papel reciclado. "Ninguém se queixou nem deixou de me contratar por causa destas regras".

Os resultados foram "óptimos" nas palavras do cantor. Em cada visita a uma cidade, Sardet fez questão de dar a cara em sessões de esclarecimento com alunos de escolas secundárias. "Quis ir ao encontro de jovens de diversas faixas étarias. Jogávamos à reciclagem e eu explicava o que era o aquecimento global". Mas nem tudo foram boas notícias neste contacto com um público supostamente informado. "Diz-se que os mais novos já sabem tudo do ambiente mas não é bem verdade. Às vezes os resultados são aterradores. Eu próprio tive que procurar informação. A nível nacional fala-se muito em termos genéricos. Fala-se muito em aquecimento global e nas florestas, mas não se explica porquê. Acho que se está a começar a casa pelo telhado".

Sardet não é fundamentalista quanto ao papel dos músicos na sociedade. A mensagem só deve ser passada quando "essa necessidade for sentida". No caso do ambiente, "há muita gente a aproveitar-se", defende, embora eventos como Live Earth, realizado no ano passado por iniciativa de Al Gore, tenham representado "uma preocupação legítima e verdadeira". Mas há muitos problemas por resolver. "Não vale a pena pensar no futuro para a minha filha se o planeta não for habitável".

Texto: David Pinheiro
in Diário de Notícias | 21 de Abril de 2008

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