Os municípios – que aderiram à iniciativa de uma forma expressiva, tendo a APFN recebido 181 respostas do total de 308 autarquias existentes em Portugal - foram questionados sobre as medidas autárquicas de apoio à família que estavam a implementar, à data do estudo. A grande maioria manifestou disponibilidade para colaborar em políticas familiarmente responsáveis.
Partindo de pressuposto de que as famílias são a célula base da sociedade, pelo que se prosperarem “o País também prospera”, a APFN defende que o seu enfraquecimento “conduz a disfuncionalidades que obrigam o Estado a intervir e a mobilizar meios e recursos que podiam ser utilizados noutras finalidades”. Estando os municípios mais próximos das famílias, “podem acompanhar as suas necessidades e aperceber-se do interesse e relevância das políticas públicas para a família”.
Em declarações ao VER, Ana Cid Gonçalves, secretária-geral da APFN, acredita que “os municípios estão a tomar consciência do problema demográfico” que Portugal atravessa com o crescente envelhecimento da população, ficando cada vez mais motivados para tomar medidas neste âmbito, a nível local.
Para as famílias munícipes, a APFN propõe às autarquias que implementem ou reforcem medidas de justiça e equidade, contemplando as famílias mais numerosas, como por exemplo a tarifa familiar da água (que corrige a penalização que os tarifários da água comportam para estas famílias em função dos consumos per capita); descontos nas taxas municipais sobre a habitação (IMI - Imposto Municipal sobre Imóveis e IMT – Imposto Municipal sobre Transacções), considerando que as famílias com mais filhos habitam em áreas maiores por uma questão de necessidade, e não de luxo; descontos nos transportes públicos, descontos nos passes escolares e descontos em bens culturais e desportivos.
Para Ana Cid Gonçalves, estas medidas “justificam-se claramente perante os enormes problemas demográficos” do País. Afinal, “há 26 anos que estamos abaixo do Índice Sintético de Fecundidade” – que estipula que a reposição de uma população se atinge com uma média de 2,1 filhos por cada família – e a situação tende a agravar-se (actualmente a média em Portugal é de 1,3 filhos por família).
Neste contexto, “quem faz a diferença são as famílias numerosas”, pois as famílias com menos de três filhos não contribuem para esta reposição da população, sublinha a secretária-geral da APFN, rematando: “é preciso fazer uma discriminação positiva, que tenha em linha de conta que quanto mais filhos as famílias tiverem, de mais apoio necessitam”. Perante uma população envelhecida (Portugal conta hoje com uma média de três idosos por cada criança ou jovem, o que “é dramático”, nas palavras de Ana Cid) e sem capacidade de empreendedorismo, as famílias numerosas “podem dar um contributo real à sociedade portuguesa”, insiste.
Em matéria de conciliação entre a vida profissional e a familiar, a APNF recomenda também um conjunto de medidas a implementar dentro de cada autarquia, permitindo aos seus trabalhores fazer face às suas necessidades quotidianas, como é o caso da flexibilidade do horário do trabalho ou do horário contínuo (sem pausa para almoço). O alargamento das consultas médicas disponibilizadas pelos municípios aos filhos dos trabalhadores autárquicos ou o acesso dos familiares destes profissionais às cantinas das autarquias são outros exemplos de boas práticas autárquicas, em matéria de políticas de apoio à família. A este propósito, a secretária-geral da APFN deixa o alerta: “em Portugal, “existem muitas medidas de políticas assistenciais, mas temos carências nas políticas de apoio às famílias”.
Apoiar famílias com dependentes e conciliar trabalho e família
O levantamento centrou-se em duas vertentes fundamentais, as medidas de equidade e de apoio às famílias munícipes e as medidas de apoio aos trabalhadores autárquicos. As primeiras são medidas adoptadas para eliminar algumas penalizações a que as famílias são sujeitas e que permitem desagravar parte da sobrecarga financeira que pesa sobre as mesmas, quando possuem descendentes ou ascendentes em situação de dependência. As segundas são essencialmente medidas que favorecem a conciliação entre trabalho e família.
O estudo realizado torna evidente que os municípios estão conscientes da falta de políticas de apoio à família, mas possuem uma visão clara das consequências da inexistência dessas políticas.
Conhecendo bem a sua realidade local, as autarquias conseguem perspectivar com maior clareza as acções necessárias, e têm vindo a adoptar um conjunto de medidas, quase sempre adequadas, mas a sua capacidade de acção está limitada pelo estado central, quer ao nível das regras de utilização dos recursos de que dispõem, quer ao nível da sua área de competências e do seu poder decisório, conclui a análise da APFN, que sublinha: “os municípios estão, duma maneira geral, a fazer o que podem nas áreas em que podem”.
Neste contexto, “torna-se importante compreender que as políticas sociais possuem uma dupla vertente de Política de Família e de Política Assistencial, que se devem complementar”.
Para esta associação, a Política de Família deve ser uma política transversal capaz de abranger diversas áreas de intervenção e a sua adopção torna-se mais clara e consistente “quando existe um instrumento que sirva de impulsionador”. Como explica Ana Cid Gonçalves, o instrumento encontrado pelos municípios que possuem um conjunto de medidas mais amplo foi a adopção de cartões de família ou cartões de família numerosa, que proporcionam um conjunto de benefícios às famílias munícipes.
Além disso, os municípios têm em estudo e perspectivadas outras medidas, “tornando-se importante continuar a dar visibilidade constante e permanente a todas as medidas, não só para premiar o esforço que está a ser realizado mas sobretudo porque a experiência obtida por alguns municípios poderá ser aproveitada em benefício de outros”, conclui a APFN na análise dos resultados avaliados junto destes organismos.
O seu contributo no relacionamento do poder local com as famílias não se fica pelo levantamento das medidas autárquicas de apoio à família, pelo que a associação propõe, por um lado, a adopção da nomenclatura de Autarquia Familiarmente Responsável (AFR) para as autarquias que se destacam na adopção de boas práticas quer para com os seus funcionários autárquicos, quer para com as famílias munícipes; e, por outro, a criação de um Observatório de Autarquias Familiarmente Responsáveis (OAFR), que dê visibilidade às autarquias que se destaquem neste âmbito, potenciando a experiência obtida por uns municípios em benefício dos outros, colocando ao dispor das autarquias equipas pluridisciplinares que contribuam positivamente para a avaliação de medidas nesta área e disponibilizando na Internet grelhas qualificativas de avaliação das medidas que a APFN recomenda, entre outros objectivos delineados. Este observatório já tem uma equipa em funcionamento e apresentará publicamente os seus primeiros resultados em Setembro próximo.
Apoios às famílias munícipes |
• Bilhetes familiares para acesso a actividades culturais, desportivas ou recreativas • Apoios específicos às actividades escolares, por exemplo ao nível dos transportes escolares, refeições, aquisição de material escolar ou criação de bolsas de estudo • Cartão de família numerosa ou similar, que identifique as famílias numerosas do concelho, proporcionando-lhes um conjunto de benefícios • Apoios à habitação, através de descontos nos impostos municipais em função do número de metros quadrados da área das casas per capita • Criação de uma tarifa familiar da água |
Apoios aos funcionários autárquicos
• Flexibilidade de horário para acompanhamento de filhos menores;
• Horário/Jornada contínua para acompanhamento de filhos menores;
• Semana de 4 dias;
• Créditos em horas em função da assiduidade/pontualidade;
• ½ dia de trabalho por mês para resolução de questões familiares;
• Cantina camarária acessível à família;
• Consultas de medicina familiar;
• Transportes (dos funcionários para o trabalho / dos filhos dos trabalhadores para o infantário / Passes gratuitos para filhos dos trabalhadores / transporte para consultas médicas);
• Colónia Balnear para filhos;
• Dia de aniversário;
• Apoios dados através dos Serviços Sociais das Autarquias ou através das suas associações de trabalhadores, como concessões de subsídios ou comparticipações em propinas escolares, apoiamos domiciliário a idosos e deficientes ou descontos na utilização de equipamentos camarários;
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