Fernando Ribeiro Mendes, Professor do ISEG e Presidente da RSE Portugal*
O mainstreaming do conceito de Responsabilidade Social das Empresas (RSE) foi realizado pelas teorias e boas práticas da gestão, como Michael Porter reconheceu recentemente, afirmando que o teste essencial para as políticas de RSE não é se uma causa tem valia, mas se ela representa uma oportunidade para criar valor partilhado, isto é, se constitui um benefício significativo para a sociedade que também é valioso para o negócio.
No cerne desta visão sobre a realidade empresarial está a ideia de que esta consiste, no essencial, numa constelação de legítimos interesses de um conjunto de partes ou stakeholders, sobre os quais impactam as acções dos processos empresariais e da gestão das empresas, criando exposição a riscos particulares, que acrescem aos demais riscos de negócio.
Trata-se de riscos de contexto que consistem na possibilidade de um qualquer stakeholder poder assumir uma determinada questão social ou ambiental e exercer pressão sobre a empresa, explorando vulnerabilidades nos seus factores críticos de sucesso, designadamente, a reputação ou a imagem institucional, de tal forma que a empresa seja coagida a mudar as suas políticas e o seu posicionamento de mercado.
As ameaças criadas, assim, por stakeholders podem ser contidas, até certo ponto, através da conformidade da empresa a respeito dos valores da sociedade. Uma primeira geração de políticas de RSE emana desta longa aprendizagem da gestão: marketing relacionado com causas, patrocínios de iniciativas sociais, etc.
A exploração estratégica de oportunidades, que tais riscos também comportam, originou uma segunda geração de políticas, baseadas no reporte e na auditoria sociais, na certificação ambiental, de segurança e saúde no trabalho e social, bem como no diálogo permanente envolvendo os seus stakeholders.
E a crise?A conjuntura presente, de crise financeira e recessão económica graves, coloca uma interrogação fundamental: se a RSE estrategicamente diferenciadora está assumida para navegação competitiva em tempos bonançosos, tal papel subsistirá quando fortes tempestades assolam as economias?
Estou convencido de que, em tempos de profunda crise económica e quando os progressos da competitividade das empresas portuguesas voltam a divergir dos competidores globais, a RSE pode e deve constituir um valioso contributo para alicerçar vantagens competitivas diferenciais que rompam o círculo vicioso da baixa produtividade e do medíocre governo empresarial que nos tem tolhido o passo no catching up das economias mais desenvolvidas.
O ano de 2009 vai confrontar a coerência das estratégias sociais e ambientais das empresas de uma forma decisiva. Se as políticas de primeira geração vão ser, sem dúvida, uma das primeiras vítimas da tempestade económica actual, estou em crer que as práticas associadas às políticas de segunda geração poderão manter-se com esteio de estratégias empresariais bem sucedidas. Todavia, também neste caso, a "prova do pudim" está no comê-lo...
(fonte:http://aeiou.expresso.pt/responsabilidade_social_das_empresas_em_tempos_de_crise=f493384, consultado em 24.01.09 )
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